PUB

Costuma fumar? 5 riscos do tabaco para a saúde sexual

31 Jan 2024 - 10:51

Costuma fumar? 5 riscos do tabaco para a saúde sexual

Não é novidade que fumar faz mal à saúde. Além da nicotina, um cigarro tem cerca de 7000 compostos químicos prejudiciais à saúde, dos quais 70 são cancerígenos – entre eles o benzeno, o chumbo, o mercúrio ou o alcatrão. O alerta é feito pela Liga Portuguesa Contra o Cancro.

Sabe-se que o tabaco é o principal fator de risco para o aparecimento de diferentes tipos de cancro e tem consequências a nível do sistema respiratório e cardiovascular. Mas também a saúde sexual pode ser afetada pelo hábito de fumar. Conheça cinco possíveis consequências do tabaco na saúde sexual.

Disfunção sexual

É um dos alertas que surge nas embalagens de tabaco: fumar causa disfunção erétil ou impotência. 

“Do ponto de vista da medicina sexual, a disfunção erétil é o sintoma mais importante secundário ao tabagismo”, afirma o urologista Mário Pereira-Lourenço, especialista no IPO de Coimbra e na clínica Montes Claros e creditado pela Sociedade Europeia de Medicina Sexual, em declarações ao Viral.

O especialista adianta que “o tabaco provoca ereções mais fracas ou mesmo a ausência de ereção que permita uma penetração com a rigidez normal”.

“Para haver uma ereção, o sangue tem de chegar em quantidade e qualidade ao pénis. Se o sistema vascular não o permitir, o pénis não vai encher de sangue e não consegue ter uma ereção”, detalha.

Também Ana Meirinha, diretora do serviço de urologia do Hospital de Cascais e médica no Hospital Lusíadas, identifica a disfunção erétil como “um dos maiores problemas” causados pelo consumo de tabaco. 

“Na maioria [dos casos], há lesões vasculares e lesões ao nível do mecanismo do óxido nítrico”, o que prejudica uma ereção.

“A ereção acontece quando o sangue vai até ao pénis através das artérias cavernosas saudáveis e, depois, faz com que seja possível encerrar a veia para manter o pénis ereto”, explica a diretora do serviço de urologia. 

PUB

O consumo de tabaco pode causar “lesões de um lado ou do outro”, causando, em casos mais avançados, uma situação de impotência.

Na prática, o mecanismo que provoca disfunção erétil é semelhante ao que aumenta o risco de doenças do foro cardíaco – como enfarte ou acidentes vasculares cerebrais (AVC) – entre os fumadores: os componentes do tabaco vão tornando as paredes dos vasos sanguíneos mais espessas, o que dificulta o fluxo suficiente do sangue pelo corpo e também nos órgãos genitais.

Mário Pereira-Lourenço lembra que “a disfunção erétil deve servir de alerta para doenças cardiovasculares”, uma vez que “é um dos primeiros sintomas” e “pode anteceder em cerca de dois anos um possível enfarte”.

Esta situação está bem identificada pela comunidade científica. Uma revisão atualizada, publicada em 2023, refere que a evidência disponível mostra que o tabaco está associado a casos de disfunção erétil, entre outras comorbilidades.

Nas mulheres, a disfunção sexual pode não ser tão visível, mas também é um problema. Irina Ramilo, ginecologista e obstetra no Hospital Lusíadas, explica que “fumar pode danificar os vasos sanguíneos e restringir o fluxo sanguíneo” também na região clitoriana. 

“Se fumar restringir o fluxo sanguíneo para a área genital, pode reduzir a sensação de excitação e pode também ser difícil atingir o orgasmo”, adianta.

Diminuição da excitação e da libido

O consumo de tabaco pode ter efeitos indesejáveis na saúde sexual de homens e mulheres. Estudos apontam que o consumo elevado de nicotina está relacionado com uma diminuição de excitação e libido nas mulheres, mas também nos homens. 

Fernando Cirurgião, diretor do serviço de ginecologista e obstetra do Hospital Francisco Xavier, afirma que é conhecido “o efeito negativo que o tabaco pode ter na libido”. 

Esta situação prende-se com “alterações da lubrificação vaginal” e com a “desregularização dos ciclos menstruais”, o que tem um “efeito dominó” na libido.

PUB

Além disso, a própria sensação de prazer e o orgasmo podem ser afetados. “Aquilo que se sabe é que existe diminuição de algumas fases em relação ao orgasmo e ao prazer”, prossegue o ginecologista. 

Além disso, o tabaco pode bloquear a circulação sanguínea até à zona clitoriana, reduzindo o nível de prazer.

“Uma mulher fumadora pode ter muito mais dificuldade em atingir o orgasmo ou pode até nem atingir”, reforça o especialista.

Além disso, o tabaco pode provocar uma maior secura vaginal, através da redução da lubrificação, o que pode levar a situações de dor no ato sexual. 

Fernando Cirurgião lembra que a dor interfere com a excitação e pode levar a mulher a não atingir o orgasmo: “Começa com a secura vaginal, mas a mulher pode ficar sem desejo porque [o sexo], em vez de estar associado ao prazer, está associado à dor”.

Também Irina Ramilo acrescenta que há estudos em que se refere que “fumar pode reduzir os efeitos do estrogénio, dificultando a excitação” da mulher. Um deles foi publicado em 2013 e identificou sintomas de disfunção sexual em 34% das mulheres fumadoras. 

Os investigadores encontraram ainda uma associação entre a dependência severa de nicotina e os sintomas de disfunção sexual, que “foi quase três vezes maior do que a razão de probabilidade, em comparação com mulheres de outros níveis de dependência de nicotina na amostra”.

Em 2015, foi publicado um estudo que identificou o ato de fumar como um dos fatores de risco independentes para uma “severa diminuição da libido em homens de meia-idade a idosos”. Os autores que “a acumulação de químicos prejudiciais no corpo”, associado ao ato de fumar, “danifica diretamente as células e os tecidos gónadas” e que o tabaco afeta negativamente as “hormonas sexuais e causa a diminuição da libido”.

“A disfunção sexual pode fazer com que surja ansiedade e humor depressivo, e, por consequência, baixar a autoestima”, lembra Irina Ramilo. 

PUB

Segundo a especialista, “esses sentimentos também podem inibir o desejo sexual e levar a uma vida sexual não satisfatória, o que se torna um círculo vicioso.”

Menopausa precoce

As evidências que associam o consumo de tabaco com um maior risco de menopausa precoce já existem desde a década de 1960. Nessa altura, um estudo, citado pelo Penn Medicine Lancaster General Health, identificou que, num grupo de 650 mulheres, 20% tinham menopausa precoce – comparando com 1,7% em 5000 não fumadoras. 

Desde então, os estudos repetem-se e as conclusões também: uma revisão sistemática, publicada em 2008, avança que “a maioria dos estudos reportam uma associação entre o hábito de fumar e a menopausa precoce, mas não existem evidências claras de que a duração do ato de fumar e a quantidade de cigarros fumados tenha qualquer associação com a idade da menopausa natural”.

Ou seja, as mulheres que fumam têm maior probabilidade de experienciar uma menopausa antes dos 40 anos (chamada menopausa precoce). No entanto, se tal não acontecer, a idade normal para a menopausa parece não ser antecipada devido ao consumo de tabaco.

Considera-se menopausa precoce – ou insuficiência ovárica prematura – quando a mulher deixa de libertar óvulos e menstruar antes dos 40 anos. Algumas mulheres podem não apresentar qualquer sintoma, enquanto outras podem experienciar os sintomas associados com a menopausa normal (que ocorre a partir dos 50 anos) – tais como calores, suores noturnos ou dificuldade em dormir.

Irina Ramilo sublinha que “fumar pode causar uma redução nos níveis de estrogénio feminino”, o que aumenta o risco de uma menopausa precoce. Podem também ocorrer “alterações de humor, secura vaginal e fadiga” – fatores que estão também associados à libido e à excitação.

A Sociedade Portuguesa de Ginecologia também reconhece, no Consenso Nacional sobre a Menopausa, haver um aumento do risco de menopausa precoce em fumadoras. 

“Embora não tenha sido provada uma relação causal entre o tabagismo e insuficiência ovárica prematura, mulheres fumadoras parecem ter um risco duas vezes superior de IOP. Este risco, embora de forma atenuada, parece estar também presente em ex-fumadoras, neutralizando-se ao fim de 10 anos após cessação tabágica”, lê-se no documento.

PUB

A menopausa precoce não influenciar apenas a saúde sexual, podendo também aumentar o risco de doença cardíaca, enfarte e osteoporose. As mulheres fumadoras têm também maior probabilidade de fraturar o quadril ou a anca depois da menopausa. Além disso, o consumo de tabaco exacerba também os sintomas associados à menopausa natural, nomeadamente os calores e as dificuldades em dormir.

Infeções ginecológicas

O consumo regular de tabaco nas mulheres está também associado a um maior risco de infeções ginecológicas. É também um fator de agravamento da infeção de HPV (papilomavírus humano) – aumentando o risco de desenvolver cancro do colo do útero.

Vários estudos demonstraram uma associação entre o ato de fumar o cancro do colo do útero, mas a evidência não é consensual. Um artigo publicado no Journal Cutaneous Medicine and Surgery, em 2001, analisou a literatura entre 1966 e 1998 sobre o assunto e identificou uma associação entre HPV, o tabagismo e o cancro.

“Os dados fornecem evidências de uma associação entre HPV, o tabagismo e o cancro. A progressão da displasia também parece estar associada ao tabagismo”, pode ler-se no artigo.

Fernando Cirurgião sublinha que o tabaco pode provocar “patologias locais” associadas a “outros riscos”. Os componentes existentes nos cigarros podem alterar a flora vaginal e aumentar o número de infeções vaginais. Este fator pode também interferir na excitação e na libido da mulher, uma vez que provoca desconforto na hora da prática sexual.

Também nos homens, o tabaco surge como um dos fatores de risco para o aparecimento de tumor do pénis – assim como HPV, fimose, inflamações crónicas do pénis ou fototerapia de lesões cutâneas penianas como radiação ultravioleta. 

Segundo o IPO de Lisboa, esta é uma condição rara que atinge um em cada 100 mil homens.

Impacto na fertilidade

Os impactos do tabaco na fertilidade são, provavelmente, os mais conhecidos. Os casais que procuram engravidar são, normalmente, aconselhados a deixar de fumar – principalmente as mulheres, devido às consequências que o tabaco pode ter na saúde do feto.

PUB

Mas, mesmo ao nível da conceção, são várias as consequências, tanto para homens, como para mulheres.

Mário Pereira-Lourenço, explica que, apesar de não ter sido identificada uma “causa direta”, existem “estudos epidemiológicos que mostram que os fumadores podem ter menos qualidade de esperma”, ou seja, os espermatozóides são produzidos em menor quantidade e apresentam uma menor mobilidade.

Um esperma de menor qualidade apresenta “uma menor taxa de fecundação”, acrescenta Ana Meirinha. Porque, “menos espermatozoides, com menor mobilidade e alguns com formação anormal, podem nem conseguir fecundar o óvulo”. Podem também ser identificadas alterações cromossómicas dos gâmetas que levam a uma perda precoce da gravidez, prossegue a especialista.

Nos homens, esta situação pode ser transitória, uma vez que são células que estão “sempre em formação”. 

No entanto, deixar de fumar não tem efeitos imediatos e pode levar entre “três e seis meses a haver melhorias” na qualidade do esperma, alerta a diretora do serviço de urologia.

Uma revisão da evidência, publicada em 2015, concluiu que “existem correlações dependentes da dose entre o tabagismo e a qualidade do sémen e função do esperma”, nomeadamente ao nível da função dos espermatozoides. 

PUB

Os investigadores sublinham que se deve “desencorajar o tabagismo e eliminar a exposição ao fumo do tabaco” no geral, mas, em particular, “durante a tentativa de engravidar”. 

Nas mulheres, o impacto do tabaco na fertilidade é mais difícil de avaliar, mas, segundo Irina Ramilo, “sabe-se que a mulher que deixa de ter comportamentos aditivos [como o tabaco] pode melhorar a capacidade ovocitária”.

“Quando um casal chega a uma clínica de fertilidade, a primeira coisa que dizemos é para retirar o tabaco. O tabaco tem muitos ingredientes tóxicos, e a toxicidade – quer do tabaco, quer de outros elementos – faz diminuir a fertilidade e a ovulação”, esclarece a ginecologista.

Um estudo publicado em 1996 já identificava os efeitos do tabaco no funcionamento dos ovários. Os investigadores concluíram que o ato de fumar “parece ter um efeito tóxico mais transitório sobre a fertilidade, porque as atuais fumadoras, não as antigas fumadoras, tiveram uma redução marcada da taxa de gravidez após ciclos de tratamento quando comparados com não fumadoras”. 

O próprio regulador norte-americano para a alimentação e os medicamentos (FDA, na sigla inglesa) alerta para os riscos de fumar na fertilidade, na produção de hormonas e na conceção. Com base na evidência científica, a FDA alerta que fumar pode “reduzir a fertilidade, tornando mais difícil a conceção”, pode também “afetar negativamente a produção de hormonas”, pode “prejudicar o sistema reprodutor” e ainda “danificar o ADN dos espermatozoides”.

Categorias:

Saúde sexual

31 Jan 2024 - 10:51

Partilhar:

PUB